“A EAD morreu, pois nosso conceito de distância não faz nenhum sentido mais”.
Um dia disseram a Walter Benjamin que ele estava longe, e ele retrucou: "de onde?". Sem referência, não há "longe" e "perto". Ninguém mora longe. Todos nós moramos perto de alguma coisa que está perto.
Mas tudo isso é conversa do passado. Ninguém mais está longe ou perto. Não estamos mais falando de um mundo em que a regra é "encurtar distância", como no mundo dos sinais de fumaça, pombo correio, estafeta, telégrafo, telefone ou TV. Estamos falando em um mundo pós-EAD. Pois a EAD acabou. Sei, sei que viveu pouco. Claro! Temos de considerar a mortalidade infantil, e foi o que ocorreu com EAD! Nasceu e ... pimba! Já morreu.
Nem todos ficaram sabendo da morte da EAD. E assim, alguns ainda tentam encontrá-la, lidar com ela. Em vão. O féretro já passou. Um mundo sem EAD é o mundo que temos agora. E é melhor nos conformarmos, pois da morte ninguém volta. E quem disse que voltou, preferiu não ficar entre nós.
Como que a EAD morreu? Simples, a EAD é composta de três partes: "ensino", "a" (que vem se crase!) e "distância". As duas primeiras partes não sofreram abalo. Mas a última parte necrosou e teve de ser amputada. Ficou EA. Mas EA não é nada, e então, eis que talvez nem enterro tenha havido. Acho que ficou apenas a lápide lá, sem corpo. "Aqui jaz uma jovem que não conseguiu nem mesmo tomar gosto pela vida" ou "Aqui jaz uma jovem que morreu virgem" etc.
O que fez a morte da EAD acontecer, tão jovem ainda, foi o desaparecimento da noção de distância. Todos os meios de comunicação eram "meios" que implicavam a noção de "distância". Mas a distância desapareceu do nosso mundo. E então, a EAD sumiu. Tanto investimento em "pólos computacionais" e "laboratórios de informática" para nada. Já havia em alguns lugares até pró-reitores de EAD! Perderam o cargo. Alguns negam, dizem que ela está apenas desaparecida, e se aferram às cadeiras. Querem as secretárias e até cartões corporativos que tinham. Mas, o fato é que a EAD sumiu mesmo.
Tontos somos nós, os que pagamos impostos para que exista quem faça EAD em universidade estatal. E tonto é o patrão que, na sua universidade particular, ainda mantém um "setor de EAD" - está jogando dinheiro fora.
Não há distância nenhuma estudante e conteúdo neste caso: Joana é estudante e abre um blog de um professor (a plataforma Moodle, por exemplo, nada é além de um blog, embora alguns teimem a torná-la feia, suja e disforme) e vê um vídeo, escuta um podcast, lê um conjunto de "respostas às perguntas mais freqüentes" e, fazendo essas três atividades, inicia um trabalho de aprendizagem. Não cabe falar em distância entre Joana, a garota que abre uma página de site para o aprendizado, e seu professor (particular, no caso!), que pode conversar com ela ao vivo, por meio de algo como a plataforma mogulus (por exemplo, aquela da TV Filosofia WWW.mogulus.com/filosofia http://www.mogulus.com/filosofia ou da TV São Marcos http://www.mogulus.com/tvsmarcos). Qual a distância? Como pode haver distância nesse caso?
Não falo de distância entre eu e Platão, quando leio a *República*, embora ela tenha sido escrita há mais de 20 séculos, na Grécia. Cabe menos ainda falar em distância quando eu, como professor, estou na TV Filosofia conversando diretamente com estudantes de filosofia, uma vez que entrei na casa deles e, diferente da TV normal, não fiquei na sala de jantar, fui para o quarto deles e, diferente da TV normal, não sou apenas eu quem falo, mas há uma perfeita interação, que pode ser em tempo virtual ou tempo real. Por isso, no mundo atual, não existe mais EAD. Pois a noção de distância é algo que não temos mais.
É claro que o MEC e várias universidades ainda vão continuar falando em EAD. É uma questão política. É uma questão de poder. Criaram uma burocracia para tal. Deram empregos. Geraram chefes, chefetes - muitos caciques e poucos índios - e até mesmo o ministro da Educação (este e os futuros) ampliou poderes tendo mais subordinados. Mas isso é um castelo de cartas. Pois a EAD não existe mais. É como o Ministério da Marinha do Paraguai.
Qualquer professor pode, como qualquer garoto que lida com o Orkut ou faz um blog, ter o seu blog pessoal e lidar com a plataforma Moodle ou outra. Qualquer professor pode ter a sua TV própria, online, e conversar diretamente com o aluno da sua própria casa. A democratização do ensino aconteceu. Tudo aquilo que Lyotard e Illich falaram nos anos 70 ocorreu. Começamos pela EAD e agora vivemos o pós-EAD. Pois não há sentido dar um nome especial - EAD - para algo que é o normal, corriqueiro, cotidiano, que é a relação entre o professor e o aluno que ocorre através de um meio, que não é só o livro e a apostila, mas é também a TV e os blogs (e a moodle nada é além disso). E tudo isso é grátis! Ou, em alguns casos, quase isso.
Bom, mas há professor que insiste que "precisa se adaptar aos novos tempos"! Há aqueles que dizem "ai meu Deus, não valho mais pelo meu conhecimento, mas pela minha capacidade de manipular os mecanismos de EAD". O professor que diz isso não vale a pena ser contratado, pois ele não faz idéia do que está falando e, na verdade, ele é um pouco burro ao falar isso. Portanto, sendo um pouco burro, não é uma boa mão de obra. Não devemos contratar um burro. Seria o mesmo que contratar um professor universitário que não consegue abrir um livro, uma vez que o livro está escrito em inglês. Contratar um professor universitário que não consegue ler em inglês? Ora, se você quer contratar alguém assim, faça, o dinheiro é seu e você gasta como quiser. Eu contrataria um professor normal, um que lesse em português e inglês. Para quê pagar o pior? Questão de preço? Duvido! O segundo é tão barato quanto o primeiro, e rende mais. Então, o mesmo vale para outras habilidades. Qual a razão de se pagar um professor que não sabe fazer um blog? Um doutor que não tem um blog não quer escrever. E se não quer escrever, será que realmente é um professor universitário?
Para fazer um blog é necessário saber apertar três vezes o clique do mouse (pode-se usar qualquer dedo, portanto até um Presidente da República consegue!), com instruções contidas em uma linha somente, em português! Abra o Blogger, que agora é do Google e veja! Antes estava em inglês, agora nem isso! E o mesmo vale para a plataforma Moodle.
Bem, mas pode ser que o professor não consiga fazer isso por uma razão simples: caso ele tenha um blog (ou material na moodle), ele será comparado mais diretamente com outros professores. Alguns escreverão coisas boas, outros não. Alguns farão aulas assistidas, e outros não - e todo mundo poderá ver a aula de todo mundo! Ah, então haverá a comparação. E é isso que os medíocres temem: a comparação! Então, alguns se recusam a aceitar a morte da EAD. Querem manter a EAD "viva", ou seja, embalsamada, e com isso poderão continuar a dizer "Ah, hoje estão dizendo que não possuo mais competência, eu, que sou uma sumidade, pois não sei ministrar uma relação de ensino aprendizagem através de EAD".
A EAD vive para proteger os fracos que dizem que ela é a causa deles estarem sendo submetidos a medíocres. E alguns medíocres se apossam do mesmo discurso, com sentido invertido, para garantir privilégios. E alguns reitores compraram pólos computacionais (super faturados, é claro!) para gerar EAD, e no fundo só queriam gerar poderes - para si, amigos e familiares. Mas a ilha da fantasia acabou. A EAD morreu, pois nosso conceito de distância não faz nenhum sentido mais.
__________________*Mensagem postada na CVL pelo polêmico filósofo Paulo Ghiraldelli antes de ser banido.
2 comentários:
Boa tarde querida amiga!
Saudade de vc tbém...
Tenha um ótimo dia internacional da mulher!
Bjs
Oi meu amor, que saudades de vc... De nossas conversas, ontem depois de um tempo eu vi que vc tinha deixado um recado no msn... Manda notícias sempre tá? Bjos
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