Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
europeias
e europeu me chamam.
Não sei se o que escrevo tem a raiz de algum
pensamento europeu.
É provável... Não.
É certo,
mas africano sou.
Pulsa-me o coração ao ritmo dolente
desta luz e deste quebranto.
Trago no sangue uma amplidão
de coordenadas geográficas e mar Índico.
Rosas não me dizem nada,
caso-me mais à agrura das micaias
e ao silêncio longo e roxo das tardes
com gritos de aves estranhas.
Chamais-me europeu?
Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há savanas de aridez
e planuras sem fim
com longos rios langues e sinuosos,
uma fita de fumo vertical,
um negro e uma viola estalando.
Rui Knopfli (1932-1997)
Eis a questão da identidade e o forte elemento eurocêntrico na formação da identidade negra.
No poema, o "eu" lírico questiona a existência de uma identidade negra, diante da assimilação da cultura européia.
Observa-se um sujeito híbrido, por não se reconhecer como europeu e por não ter internalizada a sua cultura.
O título "Naturalidade" (de naturalização) demonstra o desejo de se resgatar como sujeito nacional e, assim, constituir uma identidade... a identidade dos excluídos.
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Muito estudo, muita leitura, muita ocupação...
pouco tempo, pouco divertimento, pouca reflexão...
Estou no "meio termo"...
Um quase nada, um pouco de tudo, um muito de todo...
Estou híbrida.
S.B.