domingo, 17 de fevereiro de 2008

Naturalidade

Europeu, me dizem.
Eivam-me de literatura e doutrina
europeias
e europeu me chamam.
Não sei se o que escrevo tem a raiz de algum
pensamento europeu.
É provável... Não.
É certo,
mas africano sou.
Pulsa-me o coração ao ritmo dolente
desta luz e deste quebranto.
Trago no sangue uma amplidão
de coordenadas geográficas e mar Índico.
Rosas não me dizem nada,
caso-me mais à agrura das micaias
e ao silêncio longo e roxo das tardes
com gritos de aves estranhas.
Chamais-me europeu?
Pronto, calo-me.
Mas dentro de mim há savanas de aridez
e planuras sem fim
com longos rios langues e sinuosos,
uma fita de fumo vertical,
um negro e uma viola estalando.

Rui Knopfli (1932-1997)

Eis a questão da identidade e o forte elemento eurocêntrico na formação da identidade negra.
No poema, o "eu" lírico questiona a existência de uma identidade negra, diante da assimilação da cultura européia.
Observa-se um sujeito híbrido, por não se reconhecer como europeu e por não ter internalizada a sua cultura.
O título "Naturalidade" (de naturalização) demonstra o desejo de se resgatar como sujeito nacional e, assim, constituir uma identidade... a identidade dos excluídos.
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Muito estudo, muita leitura, muita ocupação...
pouco tempo, pouco divertimento, pouca reflexão...
Estou no "meio termo"...
Um quase nada, um pouco de tudo, um muito de todo...
Estou híbrida.
S.B.


Um comentário:

Anônimo disse...

Sinto sua falta amiga!