segunda-feira, 26 de maio de 2008

Cidade de Deus

Estou fazendo uma pesquisa sobre o livro "Cidade de Deus" de Paulo Lins.


Dentre os elementos pesquisados nesta narrativa contemporânea, inserida no contexto pós-moderno, contextualizei alguns dados, que ora posto, para auxiliar em outras pesquisas similares.


"Cidade de Deus" é considerada a obra-prima de Santo Agostinho, que apresenta uma visão filosofo-teológica da história humana, onde o amor próprio em oposição ao amor a Deus criaram duas cidades antagônicas, uma terrena e uma divina. Santo Agostinho escreveu a obra respondendo a acusação feita pelos pagãos em 410 d. C, segundo a qual a derrota de Roma se deu pela conversão ao Cristianismo.


Na década de 60, "Cidade de Deus" foi o nome dado ao conjunto habitacional localizado na zona oeste do Rio de Janeiro. A remoção ocorreu no governo de Carlos Lacerda, onde habitandes de várias favelas do Rio foram tranferidos para este novo complexo, localizado, à época, no meio do "nada". Não se sabe o porquê do nome, supõe-se que tenha sido para motivar os novos moradores.

Em 1997, Paulo Lins publica o livro "Cidade de Deus" baseado nas pesquisas da antropóloga Alba Zaluar (autora do livro"A máquina e a revolta" de 1985). E, por volta de 2000, Meirelles lança o filme homônimo.

Porém, em "Cidade de Deus", de Paulo Lins, a comparação entre a literatura e a obra cinematográfica vai além do binário filme-livro, estendendo-se a própria literatura em si. O escritor reviu as 550 páginas de seu texto original, de 1997, em uma reedição em 2002, agora com 406 páginas. Com isso, praticamente todos os personagens foram rebatizados na nova versão do romance.


A maior diferença entre o filme e o livro está no foco narrativo. Enquanto no livro o narrador é externo à ação, no filme as histórias que compõem a história da "Cidade de Deus" são contadas por Busca-Pé.
A temática é a exclusão social traduzida pelo discurso narrativo. O romance pós-moderno vira o foco histórico para um excluído (fora do sistema), que é a própria "Cidade de Deus” e é esse ponto de vista que articula todo discurso. E, sem propor soluções para a questão da exclusão, o narrador heterodiegético (que está em terceira pessoa, mas tudo sabe), apenas constata o problema com melancolia.
"Cidade de Deus" (tanto o livro, quanto o filme) começa com uma prolepse (flash forword), ou seja, antecipa uma cena que vai acontecer depois, avançando no tempo. Assim, o narrador narra uma cena cujo leitor/espectador não conhece as personagens.


Percebe-se que há o cruzamento entre a ficção e a história que cria a verossimilhança (a aproximação com o real).
Como adaptação literária, o filme "Cidade de Deus" é excelente. Fernando Meirelles manteve a estrutura do livro, porém condensando algumas histórias. Ele optou por concentrar o filme nos personagens que também dividem o livro (A História de Cabeleira (Inferninho), A História de Bené (Pardalzinho) e A História de Zé Pequeno (Zé Miúdo)). Contudo, vários personagens do livro não aparecem na tela, inclusive alguns de destaque, como o irmão homossexual de Cabeleira (Inferninho). Outros foram condensados em um só ou tiveram suas características ligeiramente alteradas, para a fluidez da estrutura cinematográfica.
Escolha sua "Cidade de Deus"...

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