domingo, 10 de fevereiro de 2008

O Vencedor

Olha lá quem vem do lado oposto
E vem sem gosto de viver
Olha lá que os bravos são escravos
Sãos e salvos de sofrer

Olha lá quem acha que perder
É ser menor na vida
Olha lá quem sempre quer vitória
E perde a glória de chorar

Eu que já não quero mais ser um vencedor,
Levo a vida devagar pra não faltar amor

Olha você e diz que não
Vive a esconder o coração
Não faz isso, amigo
Já se sabe que você
Só procura abrigo
Mas não deixa ninguém ver
Por que será?

E eu que nunca fui assim
Muito de ganhar
Junto às mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
Só pra viver em paz


http://www.youtube.com/watch?v=VLPURvCvPP0

Visitando o blog de uma "amiga virtual", que adora a banda "Los Hermanos", postei um comentário, que ficou "martelando" na minha cabeça... então resolvi me justificar!!!
Um discurso, para que constitua um forte argumento, necessita, além de um bom conteúdo, tembém de dois fatores: a compreensão do intérprete e a coerência com os demais elementos do texto.
Todo texto tem lacunas, que são completada pelo intérprete. A intertextualidade é esse diálogo que o discurso produz com outros textos e que criam o discurso de quem está interpretando.
Assim, os compositores da banda "Los Hermanos" produzem um diálogo intertextual ambígüo, pois as pressuposições que compõem o discurso, muitas vezes, não fazem parte do universo de conhecimento do ouvinte. Tal fato se observa nos comentários pertinentes ao show e à música.
As pressuposições são difíceis de serem desafiadas, pois são tomadas como tácitas pelo produtor do discurso, baseadas sempre em relações intertextuais com textos prévios. No exemplo da música, ora postada, tem-se "O Vencedor" como verdade absoluta, mas não se indaga a quem ele serve, quem lucra com "os vencedores", quais são os mecanismos de perpetuação desta condição... Enfim, torna-se necessário que o ouvinte complete estas lacunas e estabeleça tal diálogo para, assim, compreender a informação que está contida no discurso.
O interessante na banda "Los Hermanos", a qual passei a analisar há pouco tempo, é a formação de cadeias intertextuais variadas, compostas de pressuposições, negações, metadiscursos, ironias, entre outras...
Retomando ao tema "O Vencedor", a ironia objetiva demonstrar a disparidade entre o enunciado e a sua função real, que é a de expressar (ou denunciar) a atitude negativa de subserviência e conformidade... Contudo, cumpre repisar, tal reconhecimento depende da capacidade de os intérpretes dialogarem com a letra...
Não posso deixar de apreciar, não obstante minhas restrições pessoais, a produção discursiva da banda e o papel de reconstituir, reproduzir e desafiar as práticas sociais.
S. B.

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